domingo, 25 de setembro de 2011

Ferramenta simples


Comprei uma chave de fenda.
Ferramenta poderosa.
Coloquei ela num pedestal, em evidência no quadro de ferramentas mais bonito do mundo.
Numa sala no fundo do porão
no templo da burguesia entretida. Lá eu faço fendas com ela.
Ela fura, pica e aperta parafusas. Ela fia, tece e costura tramas.
Podia estar satisfeito
mas a próxima chave de fenda, a verdadeira chave de fenda eu vou tirar da pedra.
Vou cozinhar o minério na lenha que eu cortei,
vou preparar o cabo da madeira de pau ferro,
da mata onde eu brincava.
Vou fazer ela pra não usar.
Vou passar a tarde toda olhando a chave de fenda.
Não tem buraco pra ela encaixar.

Autocontrole


Programei meu computador pra mandar em mim.
Ele sabe bem mais das coisas do que eu mesmo.
Ele acorda de manhã e diz que eu sou legal. Me passa conselhos interessantes de pessoas que eu não conheço. Meu computador é o amigo que eu sempre procurei.
Demorou pra programar o bichinho, mas ele funciona que é uma beleza.
Sempre que eu quero ouvir musica ele toca Beethoven. Eu queria Ramones, mas Beethoven é bem melhor.
Sempre que eu quero ler um livro ele escolhe Shakespeare. Eu queria ler o gibi, mas Shakespeare deixa minha mãe tão orgulhosa.
Meu computador tem um defeito só. Ele mora na minha casa. Eu saio na rua e ele fica lá.
O que será que ele planejou pra amanhã?